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'Maturidade de quem medita é diferente' 
24.08.20
Pesquisa Fonte Estadão

'Maturidade de quem medita é diferente' 

Especialista em meditação, neurologista avalia que a prática foi crucial para a sobrevivência e a sanidade mental dos 12 meninos tailandeses presos em uma caverna

Entrevista com Rogério Lima, neurologista especialista em meditação

Roberta Jansen / RIO, O Estado de S.Paulo

Especialista em meditação, o neurologista Rogério Lima, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), avalia que a prática foi crucial para a sobrevivência e a sanidade mental dos 12 meninos tailandeses presos em uma caverna. O treinador dos meninos, que estava com os garotos, é um ex-monge budista. A Tailândia concluiu nesta terça-feira, 10, o resgate do grupo, preso desde o dia 23 de junho. As informações foram confirmadas pelo comando de elite fuzileiros navais do país, acrescentando que todos estão a salvo.

Como a meditação pode ter ajudado os meninos a não entrar em pânico?

A meditação atua no eixo do corpo neuroendócrino-imunológico. Quando meditamos, estimulamos a produção de neurohormônios, que passam a circular pelo corpo reorganizando o organismo. Mesmo quem não tem treinamento longo de meditação, num ambiente de prática intensiva, como parece que aconteceu na caverna, consegue estimular essa mudança bioquímica.

Qual o impacto dessa mudança bioquímica?

A regularização da frequência cardíaca, da pressão arterial, e a própria percepção do estresse, da dor e da fome.

Mesmo numa situação tão complicada como esta?

Sim, isso é um fato importante. O estímulo externo não muda – eles continuam presos numa caverna. Mas a mudança é na percepção do estímulo, que passa a ser visto de forma menos dramática. Isso impede, por exemplo, que eles entrem em desespero.

O fato de o treinador ser um ex-monge deve ter contribuído também, não?

Sim, o longo treinamento que ele teve foi fundamental, por mais que não seja mais monge. Até para conduzir todas essas crianças e adolescentes, com toda a energia disponível delas, pela quantidade de tempo que ficaram dentro da gruta.

O próprio treinador é muito novo, tem apenas 25 anos.

A maturidade emocional da pessoa que medita é diferente, sobretudo, no caso dele, como monge, que teve um treinamento intenso e dever ter começado muito cedo. Nessas sociedades, as pessoas começam a lidar com as questões emocionais desde muito cedo. Na sociedade ocidental é o oposto: a maturação intelectual é mais rápida, mas a emocional é muito mais lenta. A meditação estimula a produção de outros tipos de hormônio de balanceamento, que reorganizam o organismo. E quando nosso filho chora ou o marido reclama, por exemplo, isso não desencadeia mais a mesma série de eventos adversos.