Bactérias que causam enfarte
Pesquisadores comprovaram que infecções do sangue por bactérias podem causar lesões vasculares que aumentam depósitos de gordura nas artérias
Após dois anos de pesquisa, o Instituto do Coração (Incor) descobriu que as bactérias podem estar por trás de muitos casos de enfarte e derrame. Os médicos já desconfiavam que as infecções podiam causar danos ao sistema arterial, mas o Incor, que está completando 25 anos, foi o primeiro a comprovar a tese, isolando pelo menos dois agentes que provocam lesões vasculares. O estudo, conduzido pela diretora do Laboratório de Anatomia Patológica do Incor, Maria de Lourdes Higuchi, abre caminho para novos tratamentos.
Até aí, a formação dos coágulos, responsáveis pelo bloqueio da circulação era relacionada apenas ao colesterol alto. O estudo do Incor revelou que as bactérias destroem paredes dos vasos, causando inflamações que acumulam colesterol.
Para José Antonio Ramires, diretor do Incor, a descoberta levará a novas técnicas de prevenção e tratamento. O primeiro desdobramento já aconteceu: sabendo do papel das bactérias no entupimento dos vasos sanguíneos, os pesquisadores do Incor passaram a estudar a hipótese de uma ação semelhante em outras partes do sistema circulatório e descobriram que a estenose (endurecimento por calcificação da válvula aórtica que bombeia o sangue do coração para o resto do corpo) também pode resultar de uma infecção crônica. A doença pode levar à morte e era considerada como um processo natural do envelhecimento.
Todos os casos analisados até o momento detectaram a presença das bactérias Chlamydia pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae, embora desconfie-se que existam outras. "Há uma relação de pelo menos sete agentes infecciosos que podem estar relacionados às placas de aterosclerose", diz Ramires. A clamídia está relacionada a problemas respiratórios, enquanto o micoplasma - a menor das bactérias - era tido como inofensivo. A pesquisadora Maria de Lourdes acredita que elas entram na circulação pelo transporte de gases respiratórios (oxigênio e dióxido de carbono) entre os pulmões e o corpo.
A descoberta do Incor não elimina o estereótipo do cardíaco em potencial. Ao contrário, afirma Ramires, os atuais fatores de risco, como carga genética, colesterol, obesidade, tabagismo, estresse, diabetes, hipertensão e sedentarismo relacionam-se à infecção, gerando condições para proliferação das bactérias. "Os fumantes têm maiores problemas respiratórios, favorecendo a presença da clamídia, enquanto o micoplasma é a única bactéria que usa colesterol para crescer."
O fato de as bactérias possuírem ação lenta e o sistema de defesa reagir melhor nos jovens pode explicar a relação entre os problemas cardíacos e os idosos. A expectativa é conseguir identificar a quantidade de bactérias num exame de sangue (anticorpos) e determinar a possibilidade de a pessoa vir a sofrer algum problema cardíaco.
Material de pesquisa
Helba Otoni
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@helbaotoni